São Paulo de todas as sombras

Lucia Guanaes & Marc Dumas

 

A maioria senão a totalidade das coisas dignas de interesse no centro de São Paulo – os edifícios, os monumentos, as praças – já foi identificada, descrita, inventariada, fotografada… Aqui, a intenção é falar do resto, ou seja: o que não se nota, o que não tem importância, “o que acontece quando nada acontece, fora o passar do tempo, das pessoas, carros e nuvens” como dizia Georges Perec.1

Justamente. Como expressar o que acontece todos os dias numa cidade como São Paulo, aquilo que retorna a cada dia sempre igual, e que é tão banal e tão comum, que ninguém nem percebe? Para responder a esta questão, nós procuramos encontrar pontos de vistas fixos de onde pudéssemos observar o movimento da cidade a qualquer hora da noite e do dia. Escolhemos 11 hotéis situados em pontos estratégicos (cruzamentos, praças) cujas janelas possuíam uma vista livre e um ângulo de visão próximo de 180 graus. Entre janeiro de 2009 e fevereiro 2012, fotografamos tudo o que vimos da janela durante ciclos de no mínimo 24 horas em cada hotel.

O resultado deste experimento foi reunido no livro São Paulo de todas as sombras que também conta com a participação do escritor brasileiro Diógenes Moura.

O livro foi concebido como um filme, segundo o passar do tempo. Os autores são os espectadores que se mantêm a uma certa distância, sem nunca tomar parte na ação, assim como o herói de Janela indiscreta de Alfred Hitchcock, esse fotojornalista acostumado a viajar pelo mundo que, após um acidente, fica preso em casa em uma cadeira de rodas, tendo como único cenário aquilo que pode ver da janela de seu apartamento.


Lucia Guanaes
 
[1] Georges Perec, Tentative d’épuisement d’un lieu parisien, em Cause commune no 1, Éditions 10/18, 1975. / Tentative d’épuisement d’un lieu parisien, Éditions Christian Bourgois, Paris, 1982.

 

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