Popular

 

Passeando nos mercados populares de Salvador, fica-se impressionado com a criatividade desmedida utilizada para seduzir o cidadão. É uma festa de cores e formas em total oposição à organização funcionalista dos hipermercados e shopping centers, onde todos os produtos são calibrados, industrializados e apresentados em mobiliário padronizado.

Aqui, a África é onipresente. Objetos, instrumentos e ingredientes parecem bem misteriosos. Uma mesma barraca exibe desordenadamente, em um tabuleiro vacilante mas calçado com cuidado, peças de artesanato e ervas medicinais… O retrato de Bob Marley ou de Jesus se encontra lado a lado com um ventilador made in Hong Kong. Tudo parece heterogêneo e incompatível, e a lógica de tal organização pode escapar a primeira vista. No entanto, tudo é organizado, classificado e valorizado, em uma mistura sutil de cores, tamanhos e funções…

As paredes são pintadas regularmente, toalhinhas de crochê são utilizadas para dar destaque ao mostruário, e o empilhamento ou repetição de um objeto se transformam em arte cinética… Pois trata-se de fato de uma arte da organização, uma verdadeira estética popular, que lembra de maneira irresistível certas instalações de arte contemporânea (Joseph Beuys, Christian Boltanski, etc.).

Realizado em 2001, Popular é o primeiro ensaio que fiz sobre as diferentes expressões visuais da cultura popular na cidade de Salvador, o segundo tendo sido Alagados, concluído no ano seguinte no bairro de mesmo nome.


Lucia Guanaes