A primeira impressão que se tem dos Alagados1 é de espanto: um panorama precário de casas de palafitas em equilÃbrio instável sobre varas finas de madeira, ligadas entre elas por passarelas bambas sobre a água estagnada do mangue.
Mais de perto, o cartão postal esvanece, dando lugar a uma engenhosidade à toda prova. As fachadas são compostas de montagens improváveis​​, 17 venezianas lado a lado, três portas de estilos contraditórios, alguns tijolos, tapumes, materiais de construção garimpados em caçambas de entulhos… Recuperação e reciclagem são a regra. Diante de nossos olhos cada fachada vira obra de arte, aqui um Mondrian, ali um Paul Klee, acolá um Tà pies…
Os interiores contrastam com a aspereza das fachadas. Eles refletem o orgulho e a dignidade dos habitantes: panelas areadas, bibelôs bem alinhados, vasos de flores de plástico, toalhinhas de crochê, bichos de pelúcia perfeitamente dispostos na prateleira, Cristos e Virgens Maria cujos olhos nos seguem por toda parte… Aqui limpeza e embelezamento são a palavra de ordem, a luta contra a precariedade não é simples.
Realizado em 2001, Alagados é o segundo ensaio sobre as diferentes expressões visuais da cultura popular na cidade de Salvador, o primeiro tendo sido Popular, realizado no ano anterior sobre o comércio tradicional. Minha intenção era abordar frontalmente a estética popular que se manifesta, entre outras coisas, na construção das casas, na arrumação dos interiores, nas bancas de mercados populares e nas decorações das festas de rua.