Em 1986, após um longo perÃodo de exÃlio, retornei ao Brasil com o projeto de realizar uma travessia fotográfica do paÃs. Fotografar me parecia ser naquele momento a melhor maneira de retomar o fio de uma história interrompida, visto que eu havia me tornado uma verdadeira estrangeira na minha própria terra.
Pedro Vasquez – que é historiador da fotografia e fotógrafo ele próprio – parece ter captado perfeitamente o que entrava em jogo nesta série de fotografias. No prefácio do livro Brasil-Brasil publicado em 1989, ele escreve:
“O Brasil de Lucia é imaginário. Sorte a dela. Sorte a nossa, pois o Brasil que ela nos desvela é muito mais humano e feliz do que o Brasil que nos é dado ver habitualmente. Vivendo em Paris há mais de dez anos, Lucia sucumbiu à doce ilusão que atinge todos os exilados : a de idealizar seu paÃs. […] O que vemos nas fotografias de Lúcia é uma relação antes de mais nada humana entre fotógrafo e retratado, uma entrega destituÃda de qualquer tensão, um reconhecer-se no outro que se assemelha à investigação maravilhada da criança que contempla, e acaricia, sua imagem no espelho.”
No entanto, como disse Vladimir Jankélévitch, um viajante poderá sempre retornar sobre seus próprios passos, mas no eixo do tempo, não há como voltar atrás! O que se perdeu, está perdido para todo o sempre.1
Hoje, trinta anos depois, a nostalgia destas imagens é obviamente dupla, pois nem eu nem o paÃs já não somos mais o que éramos então.