A maioria senão a totalidade das coisas dignas de interesse no centro de São Paulo – os edifÃcios, os monumentos, as praças – já foi identificada, descrita, inventariada, fotografada… Aqui, a intenção é falar do resto, ou seja: o que não se nota, o que não tem importância, “o que acontece quando nada acontece, fora o passar do tempo, das pessoas, carros e nuvens” como dizia Georges Perec.1
Justamente. Como expressar o que acontece todos os dias numa cidade como São Paulo, aquilo que retorna a cada dia sempre igual, e que é tão banal e tão comum, que ninguém nem percebe? Para responder a esta questão, nós procuramos encontrar pontos de vistas fixos de onde pudéssemos observar o movimento da cidade a qualquer hora da noite e do dia. Escolhemos 11 hotéis situados em pontos estratégicos (cruzamentos, praças) cujas janelas possuÃam uma vista livre e um ângulo de visão próximo de 180 graus. Entre janeiro de 2009 e fevereiro 2012, fotografamos tudo o que vimos da janela durante ciclos de no mÃnimo 24 horas em cada hotel.
O resultado deste experimento foi reunido no livro São Paulo de todas as sombras que também conta com a participação do escritor brasileiro Diógenes Moura.
O livro foi concebido como um filme, segundo o passar do tempo. Os autores são os espectadores que se mantêm a uma certa distância, sem nunca tomar parte na ação, assim como o herói de Janela indiscreta de Alfred Hitchcock, esse fotojornalista acostumado a viajar pelo mundo que, após um acidente, fica preso em casa em uma cadeira de rodas, tendo como único cenário aquilo que pode ver da janela de seu apartamento.