Paranapiacaba

 

Paranapiacaba – lugar de onde se avista o mar em Tupi-Guarani – fica a 50 km da cidade de São Paulo, na beira do planalto continental a 800 metros de altitude. O mar? Trata-se sem dúvida de uma piada indígena pois nessa região o encontro do ar marinho com a Serra do Mar (e consequentemente seu resfriamento) provocam uma espessa neblina tropical que impede de se ver a um palmo de distância.

Paranapiacaba foi fundada em 1856 pela São Paulo Tramway Company, empresa inglesa responsável pela comercialização da ferrovia que ligava as plantações de café do interior do Estado de São Paulo ao porto de Santos. Aqui se encontrava a última estação situada em terreno plano; passageiros e mercadorias deviam fazer baldeação para o funicular que descia a serra em vários patamares sucessivos, numa viagem mágica através da Floresta Atlântica – as árvores gigantescas recobertas de cipós e samambaias escondiam quase completamente a luz do dia – que terminava 800 metros abaixo na cidade de Santos.

Com a construção de várias autoestradas ligando São Paulo ao litoral, Paranapiacaba perdeu sua importância econômica, e caiu pouco a pouco no esquecimento até se transformar numa verdadeira cidade fantasma. Em 2000, quando essas fotografias foram feitas, já não havia quase nada além de antigos trens a vapor abandonados na via férrea, carcaças de vagões invadidas pela vegetação e chalés de madeira inabitados. Uma paisagem suspensa, imersa numa bruma de sonho, parada na história e no tempo, diante da qual eu mesma me coloquei entre parênteses, e capturei alguns farrapos flutuantes de realidade.


Lucia Guanaes