Limiares

Lucia Guanaes

 

Em 2018, Lucia Guanaes, Luiza Baldan e Nair Benedicto – três artistas conhecidas por seus trabalhos com a fotografia – foram convidadas a realizar ensaios visuais sobre o
MASP no contexto das celebrações dos cinquenta anos do famoso edifício idealizado por Lina Bo Bardi, inaugurado em 7 de novembro de 1968.
Lucia Guanaes optou por trabalhar a partir de três características particularmente interessantes no projeto de museu de Lina:
– a permeabilidade entre o interior (o museu) e o exterior (a cidade) através das janelas, do vidro e da transparência;
– a justaposição visual entre obras de arte e público criada pelo dispositivo dos cavaletes de cristal, onde as obras de arte acabam se confundindo com os visitantes do museu;
– a organização espacial altamente simbólica, tendo em sua parte inferior o vão livre – a rua, o espaço público, a cultura popular –, em sua parte superior o museu, a arte e a cultura erudita, e no centro uma imponente escada ligando as duas esferas.

“Limiares, título escolhido pela artista, pode significar tanto passagem quanto interrupção.
Interessada pela representação do espaço nas duas dimensões da fotografia, Guanaes produz em seu trabalho quadros rigorosos, cujo vazio – assim como o vão livre do MASP – sustenta lugares pontuados por personagens: transeuntes emergem estáticos, solitários e silenciosos, o público do museu espera em fila para entrar, um funcionário passa aspirador retirando cacos de vidro entre os paralelepípedos do vão, resquícios de um evento do dia anterior. Letreiros, pixos, veículos se expõem sobre o museu, são postos em escala e relação junto às pinturas e esculturas e ao próprio edifício. Esse exercício de tradução rigorosa dos espaços pela fotografia mostra o caráter cenográfico da arquitetura, em ressonância com o MASP de Lina. Dependendo da perspectiva do observador, o real e o teatral podem trocar de posição.” (Guilherme Giufrida, “Imagens do edifício-cavalete » in O MASP de Lina, 2019)